Páginas

quinta-feira, 1 de março de 2012

De volta pra casa




Bem que a vida poderia parar com tantos desencontros e me deixar te ver, viver. Sem dilemas, pedágios, bifurcações. Sem intrigas, medo de amar ou desconfianças. Voltar naquele domingo em que vi suas pálpebras fecharem; provando como um cochilo conseguia lugar mais importante que eu em sua lista de tarefas. Seu entusiasmo estava se esgotando. Eu já não era mais uma novidade. Nosso amor foi procurar um canto mais calmo, longe das suas implicâncias e dos meus bocejos.


Dias antes desse desencontro, a gente fazia algo pra comer, se lembra? Você brincou sobre quem faria os jantares das próximas não sei quantas noites já que nenhum de nós nasceu com o dom de transformar a matéria-prima em algo comestível e eu, sem jeito, não respondi. Por um minuto você se esqueceu que não temos a vida toda e quis enganar o estômago e a si mesmo.

-- Bem, acho que é isso – foi o que eu disse te pondo pro lado de lá da porta, na tentativa de evitar maiores decepções. Sinceramente, espero que me perdoe pela grosseria e falta de explicações, mas é que chegou aquele momento triste do amor. Eu, no auge do meu medo de te perder, senti sua boca seca implorando por um copo de liberdade e não pude lhe negar. Fui treinando metaforicamente o que mais cedo ou mais tarde alguém faria. Só porque você não estava por perto, desacreditei no amor.

Até que o futuro chegou e de tanto a gente brincar de não agarrar oportunidades, o “nós’ deixou de existir. Foi assim com a gente e com milhares de pessoas apaixonadas que ainda não sabiam a gravidade do que chamam de convivência. O mesmo destino que faz dois corações pularem sincronizados da caixa torácica, nos poupa daquilo que parecia tão gostoso e surreal. Uma afinidade tão grande, um carinho imenso, dois seres que se entendem desistem de tentar novamente. E dizem adeus em vez de até logo.

E a gente só nota o erro, depois que o caos passa e deixa a saudade. Sem você meu mundo até continua, só que sem aquela força centrípeta me guiando pro que há de mais simples e importante. Se te perco, sigo em linha reta, tangenciando pessoas e vidas que não sinto vontade de conhecer.

Então passam-se dias, meses ou anos. Amores brigam, desentendem, se perdem. Quando realmente existem, simplesmente dormem e reaparecem tempos depois sem mais explicações. O amor às vezes só quer voar, navegar outros mares, dar um tempo sem se ver, mas no fundo não se separa. É o que diz uma das músicas dos coroas do Roupa Nova. E, me vendo nessa encruzilhada, quem sou eu pra discutir com os mais velhos..

Quando a saudade chega num ponto em que poetas choram pessimistas, guitarras lamentam e cantores de meia idade tocam seu coração, quer dizer que algo ainda vive dentro de si e que alguns caminhos ainda têm volta e aí, já não há nada que possamos fazer. Afinal, não é porque o céu tá nublado que as estrelas deixaram de existir.  Já diriam os sábios cantores dos anos 80, sabemos bem que o amor nos dá asa.. mas, um dia, sem querer querendo, você acaba voltando pra casa.


-

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caso você não tenha um blog ou qualquer outra conta, marque a opção ANÔNIMO em Comentar como, logo abaixo do quadro onde você escreverá seu comentário.

Deixe aqui a sua opinião. Ela é importante pra mim =D