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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Alô, amor,



sou eu. Hoje te vi passar. Passar na minha vida de forma não muito convencional. Não é dessas histórias de adolescentes loucas que se apaixonam por quem não sorri para elas na rua. A gente se viu, se conversou. Aconteceu meio rápido, as circunstâncias em nada ajudaram, não tivemos muito tempo pra pensar, mas ainda assim a gente se quis. Mais que idealizar, aceitei seus defeitos. Acho que isso quer dizer alguma coisa, não? Pelo menos já sabemos que não se trata de uma paixão platônica.

E bem, você é bom. Isso eu sei mesmo sem ser sua mãe, esposa ou um cargo definido em sua vida. E é isso que nos torna possíveis, eu te adivinho. Na verdade eu sou ninguém, mas já sou capaz de adivinhar o que você pensa em cada situação e vejo essa bondade em você. Não de ajudar um velhinho a atravessar a rua ou carregar as sacolas de uma desconhecida, talvez seja, mas eu só posso falar dessa bondade quase impensada de me fazer feliz. Você é você e só, e pra mim basta. Não me deixa nem se eu te peço. E eu, gostaria muito de retribuir o bem que me faz.

Juro que tento. E analisando suas reações felizes, chego a achar que consigo. Com você, quase não sinto vergonha de ser tão confusa. Nos encontros dos nossos mundos diferentes, conto coisas inúteis que você parece gostar de ouvir, conto detalhes que você parece não se importar, conto o que há de mais comum e seus olhos brilham. Você me conhece. É honesto e meio complicado, do jeitinho que balança minha vida.

Então, me explica onde mora o fascínio nisso que ainda não sabemos o que é. A gente não teve muito tempo e já se quis. O tempo nos desencontrou, o mundo não nos empurrou e ainda assim, nos encontramos e nos quisemos. Nos queremos. Será que daria pra gente ser um casal feliz, todos os dias que seja, sem nos preocuparmos com o que parecerá? Vai, larga o que você tem e vem ter um pouco mais de mim. Dá pra zombar de mim agora que meu time está prestes a ser rebaixado, discutir relação após um filme nacional, não agüentar mais a minha jovem guarda no modo repeat?

Eu só queria olhar dentro dos seus olhos e revelar que você é a minha paz. Dizer que você é o que eu procuro do início ao fim do dia, desde quando eu ainda não sabia olhar no relógio. Não se parece com a yoga que relaxa, nem com um remédio em alta dosagem que me faz esquecer as obrigações. Mas confesso que você é sim, um pouco disso, e um pouco mais. Um pouco de mim e um pouco do que eu jamais vi nesse mundo. Tem cara, voz e gosto de novidade, mas parece ter nascido comigo. Eu queria uma explicação e saber se eu te conheço realmente ou não.

Então, me diga, querido amor que acontece sem acontecer, fazer o quê se eu já sei quem você é? Posso adivinhar o que se passa aí dentro antes mesmo de você abrir a boca, falar do que te angustia ou te deixa feliz em ordem alfabética e afirmar categoricamente que somos as pessoas que mais se irritam e se precisam neste mundo. Desejar o quê mais se você tem remédio para os meus medos, minhas birras, minhas certezas e meus enganos?

Daqui alguns anos talvez eu não exista mais em seu diário. Culpa das linhas que a gente deixou passar em branco, do meu medo de ir até sua rua gritar na sua janela, dos beijos que você não veio aqui me dar. Talvez nossa história seja útil pra ilustrar um livro, talvez a gente nem precise dessas respostas pra continuar se guardando um pro outro pra quando tivermos tempo, só tenho a dizer que eu confio no amor e vou onde ele me levar.

E se acaso o tempo se for e nos deixar pra trás; se nós permanecermos assim, como dois personagens que nunca saíram do papel e não formos capazes de nos tornar um casal decente, eu espero que de mim se lembre e tenha vontade de me ligar. Contente, talvez trêmula, gaga, revoltada, sem ar, eu direi: Alô amor, sou eu. E você certamente me reconhecerá.

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Um comentário:

  1. Uma lindeza de texto. Uma lindeza de amor. Amor que completa qualquer vazio no peito. Sutil como 'Bem devagar', do Gilberto Gil e interpretada pelo Caetano Veloso. Um texto de fazer ouvir 'Bem devagar'.

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