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terça-feira, 10 de maio de 2011

À luz de velas



Escute: Hunting high and low - A-Ha

Gosto de tudo simples, natural, sem maquiagens. Por isso, admito que eu, a garota mais acomodada do mundo, peco no quesito novidades. Por ser amante do tédio e apaixonada por rotinas, acabo não abusando das novas situações que poderiam balançar a vida. Sim, falo de situações planejadas, das quais eu deveria aprender a gostar. Criá-las pra ser mais exata.

O pensamento me veio à tona assim que minhas ideias imutáveis foram abaladas. Afinal de contas, estar certo não quer dizer que o outro esteja errado. É possível duas verdades acontecerem simultaneamente e as pessoas podem ter razão quando correm atrás da adrenalina, do novo, do movimento. É por isso que apesar de eu sempre dizer e repisar que a magia de um relacionamento mora no imprevisto; hoje, só por hoje, eu indico: arrisque, agrade, experimente uma coisa nova. Surpreenda seu amado de longa data. Faça um jantar, à luz de velas se possível.

Porque me contaram, é coisa de outro mundo. Sensação inexplicável, como um ambiente que domina os envolvidos ou uma descarga de querer encoberta pela meia luz. Um excesso de apetite na comida mal tocada.  O zelo de quem planeja e o apreço de quem recebe, juntinhos no mesmo guardanapo branco com bordados também brancos. É o batom que suja a taça ou o pezinho calçado de ansiedade que balança debaixo da mesa.

E o vinho parece fazer cena ao deitar-se no copo. Rodopia e lacrimeja na borda da taça flute treinada pra recebê-lo. Sobe um cheiro de sensualidade e requinte do prato quadrado guardado há séculos para um momento especial.

Todo esse clima desperta personagens dentro de si.  Sinceros, mas personagens. Uma voz que fala mais baixo, um cabelo que desliza no ombro, tudo em película 35mm e formato 16:9. O som parece brotar de dentro da alma ou de qualquer outro lugar que não seja aquelas míseras caixinhas no alto da estante. A voz do cantor internacional dá um toque de sofisticação e a do moço divide a sanidade da moça entre o certo e o errado. O desejo animal se confunde com a classe digna de Paris.

Ali, naquela chama que sombreia os instintos, não é só o amor que está acordando pro que há de novo. É mais. É um calor, uma força, um imã. Um novo tipo de aproximação. Projeto que se transforma em sonho, vivenciado não só enquanto os olhares se cruzam, mas por uma semana subsequente. Como se depois de tempos você ainda sentisse as mãos que deslizam no ombro, a paixão que emana dos corpos. 

Você planejará tudo milimetricamente, mas na hora costuma ser diferente, como qualquer coisa planejada na vida. Então, acalme-se. Se nada sair como num filme francês, não se preocupe, o inesperado ainda é indiscutivelmente o melhor dos relacionamentos e estar com quem você ama é o que realmente importa. Porém, à luz de velas, tudo se torna filme.

É por isso que hoje eu insisto. Você que namora há mais tempo e também é amante do tédio e apaixonado por rotinas, experimente uma coisa nova. Quem sabe um jantar. À luz de velas, se possível. Depois, me conta!

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3 comentários:

  1. Rosimeire (Faculdade)
    Nosssa!!! Vc conseguiu traduzir em palavras, como ninguem a cena vivida e esperimentada....Adorei..Amei..mto abrigada..espero q mtas outras pessoas possam viver essa cena e depois te contar, eh claro...Parabéns...ficou 10.

    P.S. Ja fiz minhas recomendações pros amigos.

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  2. Ei Rosimeire,

    brigada você por contar essa sua experiência, moça. Fiquei envolvida nesse projeto do início ao fim, desde a escolha do menu até quando você foi me contar depois.

    Então acabou sendo ótimo, pra você, pro seu amor e pra mim também, porque deu um bom texto também, neh?!

    Continue aprontando novidades. Depois, me conta!

    Beeijos Rosi

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  3. Me descobri mais parecido com vc!No conformismo rotineiro...Mas acredito que como eu adora novidades nos mundos paralelos, onde a razão só serve de arquiteta para construir o inesperado, o improvável, o absurdo!!!É muito bom poder ser essa "personagem" e fugir do lugar comum pelo menos no mundo onírico!
    Gosto da personalidade dos seus textos, da maturidade dos mesmos!Muito gostosos de se ler!!!
    Ps.:Quanto ao caso "absurdo" da carteira...bem...ele aconteceu de verdade, assim como uma meia dúzia de outros contos!!!Hehehehe!
    Abração guria!!!

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