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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Onde for


Eu ainda olho pra porta na esperança que você reapareça. Esse tem sido o meu mal. Não consigo me desligar de você. De vez em quando eu até ouço aquele barulho irritante que seu tênis faz em contato com o chão úmido que eu acabei de limpar. Mas não, não é nada. Ou talvez seja tudo. Tudo coisa da minha cabeça. Concentra, menina, volta pro que tava fazendo. A Irlanda sempre foi o sonho de vocês. Para de olhar pra essa porta, porque ele não vai aparecer, não vai te mandar mensagem e não mais vai sujar o corredor depois que você limpá-lo. Nunca mais vai.  Aliás, já foi. Aceita. Ta na hora de procurar a felicidade como haviam planejado, com ou sem ele. Pega logo sua passagem.

Nessas horas, o telefone inventa tocar. É sempre assim. Sinto muito informar-lhe, mas continuará tocando, porque eu não me comovo. Depois que você foi embora, não existem pegadas do seu tênis no meu corredor. Muito menos digitais das minhas meias correndo para atendê-lo. Meus novos dias são assim, na cama, com um peso a menos do lado esquerdo, e uma vida morna que se torna suficiente. Eu me sinto satisfeita em contemplar o tédio. E nem passa pela minha cabeça atender o telefone.

Alô. Quem está falando é qualquer outro no mundo que não seja quem eu queria que fosse. Deixo a secretária atender. Prometo que assim que levantar dessa cama e for buscar Toddy na dispensa, eu retorno a ligação. Estar deprimido tem seu lado bom. Vida social se torna detalhe, chocolate é prato principal e minhas meias nunca estiveram tão brancas.


O estranho é que agora que tenho tempo para resolver meus problemas, eles só me estressam e parecem não aceitar soluções. A Irlanda ficou meio sépia vista de meus olhos. O que passava batido antes, se tornou um peso nas minhas costas. E eu chego a suspeitar que essa tal felicidade não exista coisa nenhuma. Tenho a impressão de que o semáforo nunca demorou tanto pra me deixar passar e que a mulher da padaria anda batendo papo demais em pleno expediente. O cara da farmácia onde eu me pesava pouco tempo atrás, repentinamente resolveu me dar bola. Mas agora não tenho saco pra entrar em história alguma. Minha cama está lá, esperando pelo meu corpo cansado e deprimido e, de uns tempos pra cá, se tornou minha melhor companhia. É a única nesse mundo dotada de bom senso que não me liga nos horários de pico da solidão.


Venho até percebendo que existe um certo fundamento naquele papo de aperto no peito. Então, comecei a implorar com jeitinho pra que ele se afrouxasse um pouco, mas o imbecil parece não querer me escutar. Insiste nessa auto-flagelação. Me humilha perante as paredes do quarto com aquele silêncio que diz tudo. Persiste nessa maneira torturante e “sistólica” de dizer que enquanto ele não quiser, minha vida não vai pra frente. De nada adianta eu explicar que essa saudade já não tem mais graça. Não é nada metafórica ou poética como supunha. Essa dor dói de verdade.
 
É por essas e por outras que eu fiz o que devia ter feito há muito tempo. Comprei a passagem com destino àquele nosso sonho. Queria muito que você estivesse por perto, pois a Irlanda é mesmo linda como imaginávamos e apesar de não me simpatizar muito com o frio, estou amando. O que me perturba é que, me divertindo ou não, continuo a olhar para a porta. Acho que nada, por mais bonito que seja, me faz tão feliz quanto seguir seus passos sujos no corredor. 

Meus sonhos não são tão quentes quando não estou com você. Esses planos foram feitos a dois e eu gostaria de fazer algo por nós. Volte e me ajude a te aceitar de volta. Quero estar quente, envolta e de volta aos seus braços; pra que assim a gente possa atravessar esse corredor que nos une e desembocar naquela porta, que em vão procuramos, mas dá direto para felicidade. Aqui. Na Irlanda. Ou onde for.



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