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terça-feira, 24 de maio de 2011

Meu amor metafísico - à distância



Meu amor metafísico.  Ah, como é lindo. Tão nobre quanto qualquer outro amor. Tem sabor de saudade que espera pra acabar ou de fruta vermelha que não teve tempo de vingar, por isso não apodrece. Tem toda essa força, todo esse valor apenas quando nasceu mesmo pra ser amor. Quando tudo separa os lábios, mas nada separa a alma. À distância, fica mais evidente a afinidade louca de se saber amar sem certezas, sem garantias, sem saber.

É engraçado como esse amor chega respeitoso, dizendo pra eu não me privar da minha liberdade, mal sabendo que mais tarde estará derretido de carinhos e entorpecido de inseguranças. Vai te prendendo devagar, de longe, com aquela voz rouca de menina manhosa se aninhando no seu ouvido. Vai ficando bobo, querendo entender porque logo você, tão seguidor das lógicas, agora se vê sentindo por impulsos, pensando com o coração. E sonha, planeja, tem medo de perder o que nunca mais vai achar. Se zanga, se irrita, e finge pra si próprio que não está arriscando tanto.

E esse amor funciona sim, como uma descoberta, uma despedida dessa gente que não agradece mais os presentes que recebe da vida, jogando-os fora e tentando fazer você não aceitá-los também. Quando você o descobre tão longe,  paradoxalmente fica mais fácil crer num caminhar juntos, numa confiança possível, num encontro de verdade. Ele está sempre lá, do outro lado, pra sustentar, pra acalmar e dizer: “eu ainda estou aqui, meu bem, mesmo sem saber a razão de ainda estar”. Ah, como seria lindo dizer isso pra alguém, meu Deus.  Mas por favor, não diga. Poético ninguém vai achar.

Pois veja bem, essa história tinha tudo pra acabar. Não tem carícia, não tem mão com mão, não tem olho no olho. É você sem argumentos convincentes para esfregar na cara desse mundão invejoso que não quer te ver nas nuvens.

Você só tem as palavras do outro pulsando dentro de si. Cada frase que soa no peito de quem a entendeu.  Cada entrega escancarada nas verdades de quem não sabe mais mentir.  Com o tempo, você aprende a desvendá-las e, magicamente, nunca mais saberá esquecer. Como um bem que só vive pra te ver feliz ao existir. Há razões mais verdadeiras que essas? Estar aqui pelo simples fato de ter ouvido sua ausência implorando pela minha, de ver seu medo de arriscar arriscando, assim como o meu. Lindo e apaixonante. Como se o seu final de dia clamasse por mim, para que a noite cheia de sonhos fosse autorizada a acontecer.

É, meu bem, é esse amor à distância que tem esse rostinho tão bonito. Uns braços longos de quem quer me alcançar, uns dedos que na primeira besteira que digo belisca meu nariz. Conta detalhes que eu jamais quis saber, mas que ficam mais interessantes numa boca distante. Tem uma pressa em me ter pra sempre. Fala baixinho, enche-se de confiança, mas se some por um dia, dá medo. É regado todos os dias porque é gostoso, aconchegante, protetor, mais divertido que ficar imaginando o fim de nós.

Muita gente não sabe como é bom voltar a essa coisa meio infantil, abstrata, repudiada pelos que se dizem racionais convictos. Fica tudo mais puro, e finalmente mais real. Quando você escolhe ficar por gostar, sem qualquer cheiro ou toque pra te confundir, sua alma revela o que há de mais secreto e próximo de quem está longe.

Quando você se vê dentro de uma realidade tão pouco aceita, fica ansioso pelo físico, mas também começa a entender: amor que é amor não escolhe onde nascer. A distância, por mais cruel que seja, só nos ajuda a perceber: dentro de mim é o melhor e mais próximo lugar que aquele que me ama de verdade pode viver.


                                                                              

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