O coração em que você escolheu morar, hoje está cheio daquela areia fina da obsolescência.
Em volta, alguns metros de arame farpado.
Um portão com a placa: proibido adentrar-se.
Ao longe alguns latidos.
E um paninho para limpar a espingarda.
Mas se olharmos bem:
A cerca não dá choque.
O portão está podre pela chuva.
O cachorro não se levanta; desistiu de livrar-se da corrente.
A arma, um belo objeto de decoração.
Terreno triste, desesperançoso e baldio
mas com batom, perfume e o tempo livre de um vadio.
Ou seria, quem sabe, justamente o contrário?
Casa bonita, cheia de amor que só precisa ser libertado.
Alguém disposto a limpar esse lugar sombrio?
Procura-se:
Alguém que leia salmos pra quem tampa os ouvidos e não quer levantar da cama.
Que seja nobre e encha a casa de flores, mesmo contra a vontade do proprietário.
Que suporte temores e rabugices de um coração que estava infestado.
Que seja virtuoso e saiba que leva-se um tempo até que os pássaros voltem a
frequentar o jardim.
Que seja espirituoso, astuto e insista na reforma mesmo assim.
Que seja bondoso gastando um pouco do seu tempo investindo em felicidade.
E altruísta a ponto de ser egoísta. - ignorar o medo alheio com paciência e vontade.
Não é preciso ser forte para derrubar um portão já caindo
aos pedaços.
É preciso visão, observação, amor, cuidado.
Coração partido não confia de novo por conta própria.
Ele quer ver no outro o que perdeu faz tempo: confiança, coragem.
Pois é assim que se restaura um terreno abandonado:
Não se bate na porta. Você o invade.
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Certa vez ouvi um escritor dizer que joguinhos de amor não compensam, porque jogos foram feitos para pelo menos um dos jogadores perder, já o amor não. O amor foi feito para os dois ganharem.
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