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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Para a mulher mais bonita


Hoje eu vim falar daquela mulher bonita, morena, que não sabe envelhecer. Aquela que tem umas sardas no rosto de tanto que se exibe ao sol. Quase sempre se esquece do protetor solar por estar ocupada demais pensando na prova do meu irmão, na saúde do meu pai, na roupa da minha irmã e no protetor solar da filha que mora longe.  Ela é assim, como quase toda mãe. Enchedora de saco e hiperativa.


Faz do mundo uma escalada, um rali, um salto de paraquedas, tudo devidamente seguro em terra firme. Nasceu forte, trabalhadora, com a missão de me acordar, pois não vive, dá exemplos. Sabe ser gente e enfrentar aqueles que não têm esse dom.

Ah,  minha mãe... tem um perfume instigante de mulher natural. Me ensinou o bom senso, a graça de existir sem ajudas, o melhor que é tirar dos outros apenas o que querem dar.  Tem a medida certa das coisas, desde o sal na comida até o conservadorismo, apesar de abusar escancaradamente da sua autoridade.

Foi quem me apresentou às primeiras sílabas. Depositou em mim também o sonho do violão. Dizem por aí que isso não se deve fazer, pois o filho assume a responsabilidade de realizar um sonho que não é dele. Não concordo. Essa é mais uma coisa nova que aprendi. O violão que no início machucava meus dedos, agora só me tranquiliza, me viaja. Graças a elas,  minha mãe e sua insistência irritante. A mesma que faz o melhor bolo Wilma de chocolate  e que até hoje não deixa eu sair da mesa sem antes  comer abobrinha verde.

E em dias de sábado ela abre a cortina do meu quarto, com o som na maior altura. Nunca me deixa esquecer que hoje é dia de faxina e que quer ver onde eu vou chegar com essa preguiça toda.  De qualquer jeito, sei que ela acredita nos filhos. E esse é meu maior presente: seu orgulho inchado quando suas exigências se transformam em sucesso. Ela protege o filho birrento das garras dos implicantes e vibra com a beleza da filha como se não tivesse vindo dela própria.

É assim, gastando seu tempo e sua voz, mandando embora seu dinheiro e esquecendo de proteger a própria pele que você cuida dos seus filhos e encontra a graça da vida. É assim, com crises, abraços e discussões que nós lhe agradecemos. Toda sua sabedoria aliada a um sexto sentido a deixam bem mais bonita e divina.

É por essas e por outras, mãe, que eu peço que sorria, que não esqueça as peculiaridades de ser mulher. Que transborde a onipresença e a competência que só você sabe ter. Compre um creme novo, mude um móvel de lugar, me ligue pra contar as fofocas, diga que o mundo não se resume às filosofias que eu invento. Faça o que te faz bem.

E me perdoe, porque justo pra você, eu não sei direito o que dizer. Nada parece suficiente, poético ou digno. Você é tão imensa , tão rápida, tão precisa em sua existência que meus textos não te alcançam, estarão sempre aquém.

À mulher mais bonita, mesmo sabendo que muito já fez por mim, hoje faço um pedido. Que viva para sempre, me ensinando a amar abrindo cortinas, desse jeito invasivo e intraduzível de quem não sabe amar, mas ainda assim ama. Sem formalidades, sem protetor, sem fim. Debaixo desse sol.




Texto escrito no dia das mães.
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