Oração

Senhor, meu Deus, mais uma vez me perdoe. Sei que há tantas criancinhas na África pedindo um prato de comida, e eu aqui, Lhe incomodando de novo com minhas bobagens amorosas. Mas não é culpa minha se o Senhor nos inventou assim, partidos, separados em confusas metades.

Sim, eu estou confusa de novo. E a causadora das minhas ansiedades é aquela velha história que o Senhor mesmo escreveu torta com as próprias mãos. Dessa vez eu quero saber, ela acabou ou não acabou? De fora da situação tenho certeza que sim. E sei os conselhos que eu me daria se não fosse minha própria vida. Posso ouvir daqui meus próprios sermões, sentir meu próprio puxão de orelha. Mas do lado de dentro juro que só consigo ouvir meu coração.

Ele, o tal garoto, já matutou com Você sobre o tempo que possivelmente está perdendo comigo, que eu sei. E eu me ofendo um pouco. Talvez tenha perguntado ao universo se está fazendo a coisa certa ou pedido a uma estrela que lhe desse a direção. Às vezes penso que se fosse pra ser, não existiriam tantos “mas” na cabeça dele. Mas então eu percebo que só falando com o senhor eu já disse “mas” umas quatro vezes. Quer dizer que eu não gosto dele o suficiente? Acho que não. 

Dizem que quando um homem não se decide, ele não está tão a fim de você. Mas e quando as circunstâncias não ajudam e mesmo assim ele te procura? É gentil, bom moço, educado, bonito e faz questão nem quem seja da sua amizade. (Ta, é horrível isso, mas se for analisar até conta pontos pro garoto). E quando você, apaixonada, no alto da sua compreensão, consegue entender o porquê dele não ficar com você logo? Ou pior, você sabe que ele estaria com você, mas que existe uma razão plausível pra não estar. Como faz?

Está lá em Coríntios: "O amor é paciente, o amor é benigno, não é invejoso; o amor não se ufana, não se ensoberbece, não é inconveniente, não procura o seu interesse, não se irrita, não suspeita o mal; não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 

Às vezes, por mais que a resposta esteja na nossa cara, ouvir decisões se torna uma tarefa extremamente difícil. Eu por exemplo, continuo confusa. É tanta coisa envolvida que não consigo atender sua mensagem, Deus. Sei o que o Senhor aconselharia, mas ainda não sei se persisto ou paro, se eu falo ou me calo, dou um tempo ou me deixo ser levada pelo vento, continuo construindo rimas ou embolo qualquer poesia que eu tenha escrito e jogo no lixo.

Bem, acho que é só. Cuida dele, tá? De mim e de quem eu amo também. Dessa vez não vou pedir pra esquecê-lo nem para que o Senhor dê seus pulos e nos faça a qualquer custo ficar juntos. Deixo em Suas mãos. Faça o que for melhor pra nós. Por hora vou tentar dormir e ver se consigo compreender tudo aquilo sobre seus desígnios. Quem sabe no meio da madrugada não me chega um sinal... num sonho, no meu celular ou na minha porta, né? Mas enfim, não passarei a noite em claro esperando. Isso me faz mal.

Última coisa, Deus, voltando ao início da nossa conversa, pra eu dormir em paz. As criancinhas, aquelas da África, alimente-as. Disso faço questão. Minhas esperanças, só se essa história valer mesmo à pena e não me tirar o apetite mais uma vez. É isso. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Amém.