Páginas

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Quem não quer sou eu



" (...) Uma mulher infeliz por ter amor de menos, 
outra infeliz por ter amor demais. 
E o amor injustamente crucificado por ambas. 
Coitado do amor, é sempre acusado de provocar dor, 
quando deveria ser reverenciado simplesmente 
por ter acontecido em nossa vida, 
mesmo que sua passagem tenha sido breve. 
E se não foi, se permaneceu em nossa vida, aí é o luxo supremo.
Qualquer amor -até aqueles que a gente inventa- 
merece nossa total indulgência, porque quem costuma estragar tudo,
 caríssimos, não é ele, somos nós."

.                                                                       Martha Medeiros

Escute: Quem não quer sou eu - Seu Jorge

No meio da noite eu busco uma solidariedade no fundo do espelho. Olhar as próprias olheiras suaviza o fato de ninguém saber que você sofre na calada da noite. Nada como um bom drama pra te dizer que dá pra continuar vivendo. Nada como um bom espelho pra mostrar o melhor ângulo da sua vontade de ser feliz com alguém, você sabe quem. Seria bom se alguém embarcasse nesse seu romantismo cinematográfico, mas a ordem hoje em dia é ser forte e não sofrer por sentimentalidades.


Há um bom tempo que o tempo e sua relatividade me angustiam e me escondem respostas. De mim e de um bocado de gente. Eu desejo ter uns dez anos a mais e um bom emprego que é pra ver se dou um jeito nessa vida sem graça e paro de sofrer por coisa que passa logo. Permaneço com cara de vocabulário de Augusto dos Anjos e me pergunto por que a garota do face fica tão radiante em todas as festas que vai. Até parece que não sei que todo aquele brilho vem do Photoscape. Não me conformo. Será que a vida é isso mesmo? Eu tenho mesmo que ser adulterado para parecer autosuficiente? É mesmo verdade que grandes garotas não borram a maquiagem? Seria infração gravíssima se eu mentisse um pouquinho pra me proteger dizendo que agora quem não quer sou eu?

Ele quer ficar bem comigo, mas eu finjo não saber. Puro mecanismo de defesa. Diz coisas tão bonitas que minha alma escuta e sorri, mas o contentamento não acompanha o semblante do meu cérebro que não suporta nada que soe como verdade temporária. Ta na cara que eu sei onde esse papo de sermos felizes vai parar de novo. Por mais que acreditemos, certos sonhos foram feitos pra se guardar na gaveta, afundar no oceano ou mergulhado no formol, pra quem sabe assim outras gerações admirarem. 


Me faço de triste, chateada, orgulhosa, o que na verdade também estou, mas sei que não exatamente agora com suas míseras desculpas voltadas pra mim. Tudo esforço perdido. De frente pra você, eu só sou eu, um pouco menos carrancuda e exigente. Quase abandono toda mágoa e mergulho nas suas tentativas. Mas você sabe... pra manter meu coração inteiro, digo que agora quem não quer sou eu.

Me diz: o que deu em mim? O que dá na gente? É tipo um pique-esconde com a felicidade? Parece que realmente nascemos pra ser infelizes, e por caridade de Deus desfrutamos de alguns momentos alegres pra ver se sobrevivemos. Se for o contrário, apaguem o que eu disse, meu ponto de vista anda meio pessimista. É que chega uma hora que acreditar no bem machuca e o instinto, o empirismo, Maquiavel, todos mandam você analisar o passado pra não cometer o mesmo erro mais uma vez. 


Aí, quando os músculos se contraem por frio de falta de abraço, vai lá a tonta da mulher moderna tentar ioga barata pra ver se resolve. Quando a boca tem um azedume que só some com uma pitada de saliva sincera, você vai lá e dá uma amassos no creme dental pra dormir mais cedo mais uma vez. Tudo que você quer é ser e fazer alguém feliz em tempo integral, mas entre um turno e outro reclama que a coisa tá feia. Ta na cara que é melhor esquecê-lo, mas o problema é que você encasquetou que nasceu para amá-lo. Novena de Santa Terezinha para importantes decisões, me indicaram. Mas tudo que você faz é se esquivar da felicidade e dizer: quem não quer sou eu.

Não que você queira saber, mas mulheres curadas fazem isso. As machucadas não. Pessoas se cansam de se quebrar e decidem por ficar plasticamente bem, numa foto ou numa frase otimista, sem intertextualidade entre músicas tristes e a própria vida, ainda que eu não considere isso viver. Chega uma hora que a gente aceita que a roda-viva entre no nosso coração e leve nosso destino pra lá, junto dos nossos sorrisos a cada palavra bonita, das nossas convicções de amor, do nosso viver pra ter um sorriso no final da tarde e te faz compactuar com a ideia de que você pode ser feliz sozinho. E pode sim.

O problema é quando você realmente ama, sem histerismos, sem só supor que ama e tem medo de perceber mais tarde que você nunca deixou de querer. Conformada você convence o coração de que está bem, não precisa de ninguém e que sozinha pode ser feliz. Não é o que todo mundo diz? 

No meio da noite essa garota vai sim declarar-se pro espelho, e analisar o ângulo mais bonito dos seus sonhos. Vai olhar pros lados, conferir se  alguém está presenciando suas fraquezas, como uma adolescente imatura que ainda não cresceu. Ensaiará uma cena com a sombra do amado que não sabe que é amado e dirá em voz baixa:  "você ainda não sabe, nem sei se ficará sabendo, mas quem te quer sou eu".



Um comentário:

  1. Simplesmente perfeito! Suas palavras me encantaram. Parabéns flor!

    ResponderExcluir

Caso você não tenha um blog ou qualquer outra conta, marque a opção ANÔNIMO em Comentar como, logo abaixo do quadro onde você escreverá seu comentário.

Deixe aqui a sua opinião. Ela é importante pra mim =D