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quarta-feira, 7 de março de 2012

Faz-de-conta



"Agora era fatal 
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal 
Era uma noite que não tem mais fim 
Pois você sumiu no mundo sem me avisar 
E eu era um louco a me perguntar 
O que é que a vida vai fazer de mim?"



João E Maria by Chico Buarque on Grooveshark



Você me fez prometer que eu confiaria, mas eu, na verdade, nunca achei que fosse possível. Hoje em dia, toda mulher nasce preparada para as frustrações amorosas que irão surgir ao longo da vida e é por isso que eu morro de pena de todo homem gentil e sincero que aparece. Tenho medo dos dois lados de mim mesma; da minha alma tola que enxerga sinceridade em conversinhas pra boi dormir e do meu gênio impetuoso que não admite sofrer. Então, admito que ainda guardo seu cheiro, que doeu a despedida, e que, tudo bem, eu sou uma idiota mesmo falando tudo isso. Espero que não leia.

Era fevereiro. Carnaval. Praia colonizada por mineiros e cariocas. Na pele, um dourado bonito de sol intenso ornando com o vermelho-sangue que você ostentava nesse corpo um tanto quanto desprovido de melanócitos. Você me viu passar bela, bela, bela, andando na rua como quem passa na passarela e até se privou de cantar a famosa musiquinha do verão, a tal da “Ai se eu te pego”, que não saía da boca dos demais representantes da ala masculina, e eu até gostava de escutar. Preferiu me abordar como se já me conhecesse há anos, bem no estilo carioca. E eu, de tão boba e mineira, parecia a Colombina encontrando seu Arlequim, ou talvez o seu Pierrot.

Fui sua namorada pelos quatro dias mais curtos e memoráveis que me ocorreram. Compartilhei contigo o mesmo copo, o mesmo show, a mesma platéia, que de perto invejava seu jeito lindo e expansivo de me explicar a possível continuidade do nosso amor. De tão fofo, me fez mais bonita. Pediu que eu repetisse um sorriso, afundou os dedos no meu cabelo cacheado destoante dos lisos que passavam a toda hora e me segurou mais forte, pra que eu não fosse embora antes da hora.

Foi assim até que o relógio avisasse ser metaforicamente meia noite. Em vez de um sapatinho de cristal, é ele quem deixa pra trás endereço eletrônico e só. A colombina vai dormir, o Pierrot com cara de Arlequim entra no carro e vai. 


Queridos leitores, esta foi uma breve história. Talvez sem graça, talvez real, talvez apenas devaneio pra passar o tempo ou falar de despedida. É hora de guardá-la. É hora de deixá-la neste blog como simples versos banais; para que seja revivida em outras rodas de lembranças, outras gerações, outras páginas e tempos... ou quem sabe até, em outros carnavais.



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“Já não temo mais a partida, pois ela nunca seria capaz de separar as pessoas que se amam. Separam apenas partes isoladas do corpo e não a intensidade dos sentimentos mais profundos. É o pouco que vai, é somente uma velha carcaça deixando a energia viva que não se encerra jamais no canto de uma despedida” –

Essa citação, de tão linda, ficou guardada na memória. Espero que esteja toda certinha, pois há muito tempo não a ouço, já que isso é de uma época em que eu ainda não era adepta das tecnologias digitais e o CD acabou arranhando. Foi retirada do maravilhoso CD de seresta de Marcelo Hugo, que se não me engano é daqui de Diamantina, da música Bandolins.
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Um comentário:

  1. Gentis e sinceros feito um bolero ou um Waldick Soriano.
    Sobre o (amor de) carnaval, quatro dias de felicidade não são nada mal. Um personagem de Dostoievski, em Noites Brancas, se contentou com um minuto de felicidade. Com quatro iria à loucura.

    Abraço!

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