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quinta-feira, 10 de março de 2011

Não faça planos


Bem, não sei como dizer isso. É tudo tão... novo pra mim. Você me conhece bem. Sabe da minha horrível tendência à procrastinação, aquele defeito irresponsável de deixar as coisas pra última hora; nada de planejamentos. Sem contar as desconfianças compulsivas tipicamente mineiras de não botar fé no que as pessoas dizem logo de cara; aquelas que nos separaram no primeiro desentendimento. Você dizendo aquelas coisas tão lindas e eu só me autorizando a suspirar longe do seu alcance. Você se expondo na medida do possível e eu regulando minha entrega. Desculpa, menino, eu não queria que fosse assim, mas a verdade é que não consigo fazer planos.

E eu ouvia tanto nas novelas e nos jornais e em todas as bocas do mundo; tanta gente vivida me dizendo o seguro e o incerto. Minha personagem preferida, a Rebecca de Belíssima, dizia que as mulheres não devem confiar nos homens. Pensei que ela estivesse certa, talvez esteja. Foi quase impossível comemorar quando te encontrei. Acredite! Eu tava ali pra você, só não podia deixar assim tão claro. Eu fui mais uma dessas gentes descrentes vencidas pela dor. Ou pelas novelas, jornais e todas as bocas do mundo. Todos recomendavam: "Não faça planos".

E só agora eu percebo que a saída era dizer a verdade: eu não estava acostumada com toda essa atenção. Ser a mocinha meio antissocial da turma desde pequena tem suas vantagens: você cresce sem esperar que te ofereçam algo, faz tudo sozinha. A desvantagem é que você não espera, mas também não aceita quando te oferecem por livre e espontânea vontade. – “Não, não precisa me levar em casa”, “ pode deixar que eu carrego minha mala”, “Olha, se eu estiver atrapalhando sua vida, a porta ta aberta, eu vou ficar bem” -  é só isso que você aprende. E claro: nunca na sua vida faça planos.

E então você surgiu com todas as suas convicções a respeito do amor, arruinando o discurso que preguei dos treze anos até poucas horas e dizendo que quer que eu me jogue de vez nessa loucura toda com você. Era o que eu faria se não fossem aqueles medos que eu te explico quase todo dia. Porque sim, eu tenho medos.  Você, desconfio que não os tem. É por isso que sempre que estremeço, te agarro esperando que me conforte, que diga que vai dar certo, que não há o que temer. Que não confunda o fato de eu ter medo das coisas com não querer vivê-las. Isso tudo me assombra, mas eu não sou louca de deixar pra trás o que me faz tão bem. Então, por favor, confia em mim, eu vou onde você for; só imploro que não me peça e que não ouse fazer planos.

E então, quando você me entender e suportar os meus receios; meus desejos secretamente arquitetados, cheios de dentes, silêncios e olhares desconcertantes e desconcertados criarão vida. Aí sim viveremos como se fôssemos nós uma música de Carpenters, juntinhos num sofá minúsculo em dias de inverno. O seu lençol e meu cobertor, denunciando nossos antagonismos tolos. O sol mentiroso de Junho enfiando os bracinhos frios e inoportunos pela fresta da janela que você deixou propositalmente aberta.  Eu me espreguiçando e te arrastando pra varanda. Sei lá, senti uma vontade súbita de debochar das garotas da rua que invejam nossa vidinha modesta. Sentindo ciúmes, mas sabendo que é meu. Me abraça e eu digo que até que enfim parou com aqueles sintomas de Embotamento afetivo. Você pergunta o que é isso, com aquele jeito gostoso de querer entender tudo que eu digo. “Nada demais, só um trem novo que aprendi nas aulas de psicologia”- respondo.  Você ri da minha mania de apelidar as coisas de “trem”, mas quer saber mais. Você sempre quer saber mais. E isso me faz sentir bem. Sempre me ouve, retruca, concorda, se surpreende e às vezes não gosta do que eu digo . 

Isso basta pra que eu viva os próximos dias da minha vida, comendo almôndegas e escutando rock antigo, sem me tocar da estranheza dessa combinação ou para que eu não hesite ao trocar a estável solidão que me cai bem nos dias de hoje, por uma rotina simplesinha ao lado de um moço com o charme dos anos 80, uma barba rala e um ritmo malandro de quem foi ninado nos braços do mar. Constata-se que seremos felizes porque não precisamos de muito e teremos um futuro lindo à deriva pela frente.

Cheguei com a ousada proposta de lhe salvar, meu bem, e honestamente sei que posso te fazer feliz. Até lá, não sonho muito, não planejo nada. Tudo o que eu quero é muito real. A única coisa que prometo é exclusividade de todo meu amor leonino, mitológico e heróico e que me darei por inteira sem medo de que não sobre um pouco de mim para resto do mundo. Só.

E então, menino, o que me diz? Quer não fazer planos juntinho comigo?   ;)

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5 comentários:

  1. Não sei por que...ou sei demais; mas suas crônicas me causam um estranho sentimento de familiaridade!!!Crônicas muito autorais, um leve humor e um charme inteligente!Abração!

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  2. Seus textos são um dos poucos em que eu leio e me vejo na cena, as vezes como espectador, as vezes querendo ser o personagem da narrativa, mas o que importa é que no fim das contas eu adoro cada palavra.

    BeijoGracinha

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  3. Recebi um selo de qualidade e devo indicar blogs que mereçam ser lidos e por isso estou te escrevendo pra te dizer que o seu foi um dos que eu considero de relevância!!!Entre nesse link e copie o selo e o poste no seu blog responda as perguntas e indique outros que mereçam ser apreciados!!!Abração!

    http://dersinhodersinho.blogspot.com/2011/03/um-selo-de-qualidadee-comigo_13.html

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  4. Há muito tempo não suspirava mais o amor, estava ocupando este espaço com outras coisas... Lendo seu texto despertou esse desejo de não fazer planos.

    Esses textos são excelentes, sou sua fã!!!!!
    Parabéns

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  5. Oww...q isso...tive q reler seus textos....é relendo e prestando ateção aos pequenos detalhes q a gente consegue entrar dentro da historia....e realmente nos seus textos é possivel...nao to falando so pra agradar... q vc sabe q eu nao sou mto isso.... tem um jeito descontraido de falr sobre o amor...um jeto moleca...de quem sonha um grande amor...e isso me cativa...gosto mto desse seu jeito de escrever... parabéns


    Guilherme (facul)

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