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segunda-feira, 11 de abril de 2011

A gente ia se casar


Escute: Timer after time - de Cindy Lauper na voz de Eva Cassidy  (prefiro Cindy  :x)


A gente ia se casar. Mas isso já faz algum tempo. Naquela época, eu sonhava em vê-lo escovando os dentes contra a luz da janela da nossa casa , como num filme francês. Ele era tão bonito. Tinha uma barriga gostosa, fruto de uma alimentação recentemente desregrada. E gostava de mim. Não sei se eu já falei, já? Acho que não. Mas então, a gente ia se casar.

Bolo, vestido, alianças? Não, não tínhamos pensado. A gente não pensava, nem precisava disso. A gente só precisava um do outro pra dizer o sim no altar. Minha amiga diz que nossa ligação era muito forte pra ter se desmanchado. Na verdade, ela ainda não acredita que tenha se desmanchado. Tento convencer a ela e a mim mesma que eu tenho quase certeza que acabou. Ela diz: "Pena, viu, vocês eram um belo e inesgotável casal".

E eu continuo fazendo mágica, arrancando à força explicações feito coelho na cartola. Ah, eu sou uma dançarina nata, ele não gostava de dançar. A gente até que ensaiava uns passinhos de vez em quando, mas... E também, quer saber? Ele era livre, gostava de gente. Já eu não suportava reuniões. Óbvio que não daria certo. Cozinhar então, nenhum de nós sabia. Nem sei por que tentamos. Pelo meu romantismo desprendido, pelo seu desprendimento romântico? Eu não sei. Você sabe?

Mas sei lá, minha amiga tem razão em duvidar do fim. Alguma coisa nós tínhamos, um enigma especial. Um segredo em comum, uma vontade indomável de dar amor, uma coleção de regras de etiqueta. Uma discussão temperada, uma ufania aos próprios valores, uma assustadora carga-emocional condensada prestes a explodir, feito o universo antes do Big Bang. Eu o entendia antes que ele dissesse. Ele me sentia antes que me tocasse. Premonição sinestésica foi coisa que aprendemos juntos. Como pudemos chegar a esse ponto?

Bem, na verdade, ainda me pergunto em qual dos pontos nós erramos. Se foi quando deixamos nos permitir ou quando permitimos nos deixar. Essas escolhas são tão injustas e às vezes, irreversíveis. É o mundo nos levando para o lado oposto do que deveríamos ir. 

Sabe, alguém deveria abrir nossos olhos. Mostrar que direito de decidir não implica em seguir a estrada mais fácil e que certas coisas não estão em nossas mãos. Alguns caminhos são evidentes, já foram traçados direto pra um lugar especialmente feito pra gente, com um aroma de paz inconfundível e uma sensação de abrigo irrefutável.
Lembra? Nós éramos assim, como dois refúgios. Abrigos sentimentais e recíprocos. Quer algo mais difícil de achar? O meu lugar era você. E poxa, a gente ia se casar.

Sem metáforas ou qualquer que seja a figura de linguagem que camufle as intenções de me jogar, cambaleio por aí sem entender onde e por que raios, meu Deus, fomos parar. Já não sou eu, já não é ele quem toma as decisões. Somos dois incompetentes fazedores de promessas perfeitas. Foi bonito? Foi. Mas podia ser mais. Podia ser eterno.

Posso estar errada. Talvez os bailes devam parar quando não se dança no ritmo. Ou então, tudo que nasce deva mesmo morrer um dia. Talvez. Eu mantenho minha alma embriagada defendendo os sonhadores corajosos que fomos dos realistas covardes que estamos sendo. Tenho pra mim que os primeiros nunca deixarão de existir dentro nós. Foram a nossa essência, o que nós somos de verdade: encaixes perfeitos que só acontecem de tempos em tempos, assim como o cometa Halley ou um alinhamento de planetas. É ruindade abrir mão de algo tão raro que o universo demorou milênios para construir. 

E é
fraqueza abandonar nosso presente ao léu como se este fosse apenas um passado insano. Nossos planos não são como papel, que se embola e joga na lixeira. Eu ainda tô aqui. Continuo acreditando. Se você estiver perdido, olhe ao redor e vai me encontrar o tempo todoPorque, pensa bem, se for parar pra analisar, no final das contas meu bem, ainda é tempo da gente se casar. 


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Bônus : Para o amor perdido - Fernanda Young


Um comentário:

  1. oi lorrany, adorei seu comentário e sua visita lá no blog.

    volte mais vezes, hein?

    beijinhos.

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