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domingo, 2 de outubro de 2011

Última tentativa




Depois de tanto clamar nosso amor e o julgar diferente e mais bonito que os outros, depois de tantos dias aprendendo a não ser tão impulsiva e apaixonada, eu não ligo de me contradizer buscando aquele ardor do início. Este é um momento derradeiro em nossas vidas e não quero que perdamos o resto daquela ternura que, arrisco dizer, só nós tínhamos. Fico lembrando um dia bonito em que você jogou fora todo o amargo e pediu sem pudores que eu ficasse. Sabe, amor, aquela foi a vez em que mais senti ternura saindo de sua voz. Ternura sincera de quem realmente não queria que eu partisse. Foi quando me emocionei por ter o cara mais imperfeito do mundo ao meu lado. Hoje, depois de tanto tempo, não sei se você seria tão doce assim, a ponto de não brigar pra estar sempre certo, custe o amor que custar.

Estamos calados, você já deve ter percebido. Quietos pelos cantos em nossos comodismos, tão prudentes que não incomodamos um ao outro. É estranho isso já que dormir na mesma cama foi um dia uma escolha tão entusiasmada. Eu sei, só Roberto Benigni de “A vida é bela” consegue fazer da vida algo encantador todos os dias, mas eu to aqui, meu bem, por achar que nós merecíamos uma chance. Um recomeço, quem sabe. Um novo suspiro com suas velhas promessas eu queria conseguir dar.

Todo esse tempo eu tenho tentado achar um motivo sequer pra gente ter se perdido no caminho. Ponho culpa na intimidade que traz tanta coisa nova pro nosso jeito de comunicar. Traz ofensas, intransigência e mais que tudo, a maneira intrépida com que me aborda requerendo diagramas bem traçados do seu nível de importância na minha vida. E a gente vai ficando menos cuidadoso. Deixa o deboche, os argumentos e a necessidade de respostas tomarem conta. Esquece-se que aquele com quem estamos discutindo é nada mais que nosso conforto após a discussão. É quem te agüenta, quem te cuida, quem te alenta. É quem enxergou em você o significado da própria respiração quando se viu sem ela no primeiro encontro. Isso tudo embaça minha visão para as crianças apaixonadas que fomos. Ou ainda somos.

Ta... falando assim em meio a pedidos, declarações, desculpas, nosso amor fica mais simples e minhas queixas parecem infundadas, manha de gente sonhadora que quer demais. Mas é que, você sabe, eu quero parar o tempo de novo, tremer na sua frente como na primeira vez que o vi, quero ouvir e atender seu coração, mas esse barulho lá fora não deixa. Toda essa vontade de acertar, essas tragédias ensaiadas de outras vidas, esses pensamentos precipitados, induzem nossa relação a um verdadeiro precipício. Não quero de forma alguma que essa poluição de acontecimentos e dias passados sem sentir me impeçam de ver a ternura que dormiu nos seus olhos a partir do dia em que pensou não precisar mais me fazer apaixonar. 

Tenho um acordo comigo mesma de não te querer por pressão, sem viço, paralisado; mas ainda assim, espero que fique, esvazie os bolsos e a alma, assista a rua comigo enquanto vemos essa chuva cheia de trovões da nossa vida passar. Digo isso não como um “te amo”, não como uma promessa, não como um lamento. Não é mentira mesmo não sendo a mais fácil das verdades. É somente a mais pura e última tentativa por nós. 


Olha pra mim. Sou eu, lembra? Continuo a mesma, disposta a esperar que você redecore o meu rosto, já que um bom tempo se passou, e ainda assim não saberia te esquecerEstou fantasiada pelas crises, amarguras, tempo e rotina, mas creio que ainda possa me reconhecer. Por incrível que pareça, nosso amor conturbado sempre valerá a pena, até quando aquele antigo e doce menino que eu conheci um dia, ainda for você.



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