Páginas

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Já que eu não posso te ter




      

Como diriam as mais otimistas, existe outra ocupando o lugar que deveria ser meu. Mas isso não é coisa de mulher madura dizer. Já que eu não posso te ter, tudo que devo fazer é fechar os olhos imediatamente para o que minha mente infantil insiste em querer. Não tem jeito e pronto. O negócio agora é seguir, sem olhar pra trás, nem tropeçar.

O problema é quando as teorias tendem a ser mais práticas que as próprias práticas. Vida real é uma coisa estranha, não adianta quebrar a cabeça. Certas situações não têm sentido nem solução. Ser traído não garante que o traidor será execrado dos seus pensamentos e, perdoar não é o suficiente para que a ardência da ferida impregnada na memória se desmanche. Nada é simples como deveria. Ninguém tomado de adrenalina obedece à mãe ou a revista Capricho ao tomar uma decisão de amor. Tudo que você pode fazer é rezar pela conservação do seu amor próprio que, coitado, está à mercê dessa força cuja fórmula nem Newton ousou descobrir.

Mas você pensa, vamos lá consultar o manual da mulher moderna, que pulsa de cor na minha cabeça-dura. Ele diz que, já que eu não posso te ter, devo logo acabar com isso. Mesmo eu ainda não sabendo o que me faz mais mal; se é te riscar de vez da minha agenda ou se é me reavivar todos os dias com pequenas doses suas. Nele tá escrito também que nada é pra sempre, mas essa regra parece exceção se mantenho contato com você, pois viro sua eterna dependente. Não como um viciado que procura incessantemente pelo que o sacia, e sim como alguém que tenta se reabilitar aos poucos, aprendendo viver um dia de cada vez. É uma vitória dizer que hoje, só por hoje eu não bebi uma gota do seu humor persuasivo. 

Saber que você está por perto é como ativar meus neurônios benevolentes, destruir os planos que eu tinha de ser menos condescendente com suas chantagens e mais dura com seus erros. E, sabe de uma coisa? Não é o que eu quero. No fundo, eu desejo que você acorde todas as noites arrependido do que escolheu. É injusto esquecer o que me fez e, não saber desejar-lhe o mal é como estar pendente com tudo que eu julgo certo. Você me machucou. Seria sensato da sua parte que não me fizesse acreditar novamente numa verdade da qual nem você tem certeza.

Então, vamos combinar algumas coisinhas aqui. Sempre que pensar em dizer que sou especial, abaixe o volume. Essa frase não significa muito pra quem já pensou realmente ser amada. Cale-se quando pensar em cuspir suas justificativas. Rasgue imediatamente o papel toda vez que compor um soneto bonito. Oculte seu arrependimento mesmo que seja doce e ao meu favor. Sinta-se à vontade pra ir embora e me deixar sozinha encenando uma fortaleza, ou quem sabe, desmoronando em esquinas escuras de volta pra casa. Me deixe sofrer que já já eu confundo a grandeza do que deixei pra trás, com a pequeneza do meu bom-senso.

Não diga que se importa comigo, nem que sob hipótese alguma vai me deixar. Não me elogie, nem demonstre atração física. Não invente um futuro, não explique o presente, não se refira ao passado, pois não sei até quando posso fingir não ligar. Aliás, não me ligue. Dói cortar o mal pela raiz, mas só assim pra evitar que tudo cresça novamente e tome conta de nós dois. Torne tudo mais simples pra mim.

Logo mais as coisas voltam aos seus devidos lugares, suas desatenções, seus dias corridos; menos minha vida. Armar esse desfecho sem dramas, pedido de joelhos ou aguaceiros foi o meio que achei de me proteger. Mas tem que ser agora, pra já, que é pra não dar tempo de eu gaguejar ao dizer adeus.

Bem, é isso, o que uma mulher resolvida e não disponível ao sofrimento deve fazer. Não vou te culpar por mais nada, nem cobrar os danos que fez ao meu coração. Só fique claro que sua escolha é uma licença pra eu te odiar em noites frias. Já que eu não posso te ter, o mínimo que você pode fazer é sair daqui e levar essas tralhas de lembranças que você deixa por onde passa. Siga sua vida, me descarte e acredite: no seu caso, ter só uma a quem amar não é tão difícil assim. Difícil mesmo é te falar e me convencer, que se não for por inteiro, eu prefiro não te ter.


-

Um comentário:

Caso você não tenha um blog ou qualquer outra conta, marque a opção ANÔNIMO em Comentar como, logo abaixo do quadro onde você escreverá seu comentário.

Deixe aqui a sua opinião. Ela é importante pra mim =D