Cautelosa sim

Gosto de olhar e te perceber. Venho estudando a maneira como você dá um nó na minha cabeça com precisão e sem esforço algum. Depois se queixa por eu ser tão cautelosa. Preciso entender isso ou jamais terei domínio dos meus sentidos novamente.

Pensa naqueles dias em que me jurei conformada. Aqueles em que você disse que eu me fazia de desinteressada por pura pirraça. Época renovadora esta em que nada mais tirava meu sono. Botei na cabeça que o melhor era manter contato sem essa mania pré-adolescente de me render a cada palavra sua. Enfim tomo uma decisão madura e racional de não sofrer pela mesma coisa duas vezes. Decido por aquela velha história de evitar maiores sentimentos, convencida de que aprendi a fazer isso e que já posso por em pratica. 

E finalmente aprendo a não depender tanto.

Pobre coitada! Falo e não aconteço. Digo que tô pronta pra vê-lo todos os dias, mas denuncio as fraquezas do real gênero a qual pertenço desde pequenininha: o feminino. Não consigo manter essa mentira por muito tempo. Sua insistência não deixa. Antes que eu tome as rédeas de mim mesma, você já me laçou. Quando estava pronta pra assinar minha carta de alforria, veio você, bufando insatisfação, querendo me buscar de volta. E foi o que realmente fez. Não engoliu toda a despreocupação que eu trazia em cumprimentos contentes. Desculpou-se por estar sendo frio, mas deixou claro que não mudaria enquanto eu não mudasse.

É seu jeito natural e desorientado de me prender. Jeito de quem nasceu pra me confundir. Age de caso pensado, mas é o “sem querer” que revira minhas ideias. Aposto que nem sabe desse seu dom de me tirar de mim mesma. Depois se queixa por eu ser tão cautelosa assim.

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