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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Garota Overdose




Toda mundo diz que ela é doida. E ela é. Tem um jeito irreverente e um cabelo marcado de rosa, um pouco mais curto que o seu pavio. Acho que é por isso que ninguém a escuta. Rótulos. Se soubessem que ela tem tanto a dizer, com atos e com palavras, talvez lhe cedessem os olhos e os ouvidos.

É macérrima e tem nome de cantora americana que chora. Nome bonito, agridoce, compatível. Forte e sensível, ao mesmo tempo. Gostaria de tê-lo. Em outras circunstâncias, me preocuparia o exagero de piadas autodepreciativas. Mas se tratando dela não. Sei que não é dessas que inventam personagem. É assim, extravagante de nascença e de peito aberto. A garota Overdose.

Com suas calças largas, seus óculos de grau, seus sorrisos pra fora, se revela ao mundo o que ninguém teria coragem de ser. Provoca discussão e se faz presente, tudo de um jeito abusado, mas absurdamente primoroso. 
Nunca vi. É nova, mas parece não ter crises ou dúvidas. É a certeza em pessoa. A sutileza de uma destruidora rebelião. A bagunça e a ordem, sozinhas num mundo estranho, sem ninguém capaz de ordená-la, sem ninguém capaz de bagunçá-la. E isso ninguém vê.


Suas escolhas transviadas, não cultuo. Acho overdoses desnecessárias e tenho medo que, como os demais rebeldes, ela acabe se matando por excessos. Mas, olha que ironia, mesmo sendo eu uma legítima difamadora de Cazuza e afins, tenho pensado que talvez pudéssemos aprender um pouco com ela. Não é preciso seguir sua linha devassa; afinal de contas, regras também fazem bem. A diferença é que regras estão por toda parte, já sua mente excêntrica e colorida é dificilmente achada. 

Outro dia, com um copo de cerveja na mão, começou a explicar algumas coisas sobre budismo. Mas ninguém parecia se interessar pelo que ela tinha a dizer. Naquela roda de pra sempre amigos, meus olhos sóbrios eram os únicos loucos para escutá-la. "O budismo ensina o desapego ao gostar e não gostar. Dessa forma, estou livre de julgamentos. É uma religião sem preconceitos" – Se não me falha a memória, foi mais ou menos o que ela disse.

Taí, gostei. Certas coisas ecoam na minha cabeça. Ela não está livre das venenosas línguas alheias. Aliás, qualquer coisa que faça é sempre fora do comum e, portanto antecipadamente sentenciada. Ela só está liberta
dos próprios julgamentos e da rigidez dos códigos de conduta que a ensinaram. Veja bem, essa menina não tem preconceitos nem de si mesma. 

Portanto, escutem-na. Mais que doida, ela é rara e livre. Livre de preconceitos. Nasceu com aquele espírito Cazuzístico, fora do seu tempo ou de qualquer outro tempo previsto ou já visto. Fere as leis da sociedade sem intencionar missões, holofotes, medalhinhas de honra ao mérito. Quer apenas ser feliz.


Queira Buda, esse mesmo Deus dos cristãos, só que em forma de força, como ela mesma explicou, que os exageros que a enfeitam, não se voltem contra ela. Que ela aguente seguir libertina, sem correntes, com o velho sorriso pra fora e
spantando mau-olhado. Que não deixe de irradiar luz, mesmo que aos olhos do mundo, pareça apenas mais um metal inútil exposto ao sol. E que continue assim, lançando ao vento aqueles mantras doidos e bêbados que ninguém nessa roda de amigos parece se interessar. Om.






Om= amém

17 comentários:

  1. Muito legal Lorrany querida :D mari f.

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  2. Brigada Mari.
    Volte e comente sempre, tá?
    Eu gosto de saber a opinião de vcs.

    beeijo.
    Te adoro

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  3. mt bom esse texto...excentrico...diferente..mas mto bom...eu sou meio suspeito pra falar...eu so elogio neh...hauhauaha....mas eu falo a verdade..qdo tiver um ruim..o q eu acho q sera dificil eu te falo...

    Guilherme
    (Facul)

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  4. Como sempre, brigada, Gui.
    E eu quero que vc diga mesmo, viu? Tudo que vc fala, só me ajuda a continuar escrevendo.
    Ah, e eu nao esqueci. A gente tem que procurar um jornal urgentemente. hauah

    Beeijo

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  5. pois eh neh..imprime dps os textos e a gente vai sair pra procurar os jornais em dtna...semana q vem a gente procura..ok?
    bjo t+

    Guilherme (facul)

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  6. Parabéns pelo texto...
    muito gostoso de ler e bem escrito...
    por indicação do Gui, vim ver o blog e me encantei...
    Parabéns mesmo!!!sou sua fã.rs
    Me identifico demais com esta garota aí.Quem seria?Seria uma analogia a várias garotas??
    beijoss

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  7. Anônima amiga de Gui(meu assessor),
    gostaria de saber sua verdadeira identidade depois. hhauhuha

    Mas então, que ótimo que gostou do blog e se deu o trabalho de comentar. É muito importante pra mim e pouca gente o faz.

    Bom, quanto à sua pergunta, algumas partes desse texto foram inspiradas numa garota em especial com quem reencontrei dia desses em uma festa. Mas poderia ser aplicado a qualquer pessoa lembrada por suas atitudes transgressoras das quais podem ser tiradas algum sentido.

    Beeijos

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  8. Sou avesso a paradigmas ao mesmo tempo me espanto com meu pensar tradicional, e minha busca da verdade absoluta!Sou um "garoto overdose" pelo avesso!(Não que meu visual seja dos mais convencionais)Mas infelizmente acredito muito numa criação macissa de "personagens" chocantes, com filosofias de fachada!Acredito que complicamos muito a vida para nos tornarmos um pouco interessantes,criando maneirismos,construindo nichos intelectuais coisa e tal, sendo que a vida seria mais vida se deixassemos de tentar ser para sermos exatamente o que realmente somos!Como sempre textos de qualidade!Parabéns de novo!

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  9. Anderson,
    sabe que eu também sou assim? Crio rótulos, julgo e condeno, quase sempre.
    Mas foi justamente quando eu me vi pensando num possível "pode ser", que eu resolvi fazer esse texto.
    "Pode ser que que nossas verdades indiscutíveis estejam erradas...", "Pode ser que seja legal nos rebelar as vezes..", "Pode ser que no meio de personagens chocantes exista alguém de verdade..". Por que não?
    Já pensou que "pode ser" pode ser muito bom? hauhaha

    Ah.. e muito bom o comentário! Sempre adoro!

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  10. Ló... o texto n era sobre amor n, mas adorei... rsrsrsrs
    Foi o primeiro dos mtos que vou ler..
    vou te acompanhar sempre...
    escreveu mtooo bem...

    Beeijoo

    Ana Clara

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  11. Por isso disse que acredito numa criação macissa de personagens!Nem todas as pessoas são autênticas,mas isso não quer dizer que todas sejam fantasias!Quanto ao que acredito,bem...Eu sigo a típica linha de pensamento judaico-cristão,mas como existem várias linhas de pensamento o meu é o seguinte:Penso que existem "consequências orgânicas" à tudo que nós fazemos, e ainda acredito em uma retribuição divina que tem mais efeito pedagógico do que punitivo,mas que nós gostamos de pensar como vingança!E ese efeito nem sempre é imediato, ou idêntico ao que se fez.Mas sim, eu acredito em justiça retribuitiva e tenho visto e tido experiências escandalosas a respeito disso!A religião pra mim é empírica,não filosófica!
    A propósito,gosto muito dessas nossas conversas, te acho uma garota inteligente, e acho muito estimulante essa troca com pessoas como vc!
    Abração!Tiver mais alguma dúvida pode perguntar!:)

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  12. Ana, que saudade de você, garota!
    Que bom que vc veio visitar meu blog. Ele não seria o mesmo sem a sua presença, já que só de se falar em Ana Clara já estamos nos remetendo ao amor. huauaha

    Brigada por deixar sua marquinha aqui no blog.
    Beeijos e volte sempre.

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  13. Aah sim, Anderson! Foi mal. Eu tinha entendido "personagens" como uma forma de crítica, como se a garota overdose fosse uma espécie de mentira. Acho que foi por conta da ambiguidade do comentário. (Sem ressentimentos, por favor. hauha)


    *"A religião pra mim é empírica, não filosófica"
    Bom, não posso dizer que concordo plenamente porque ainda não pensei direito no assunto e tbm, talvez eu nunca tenha tido experiências escandalosas como as que vc tem vivido; mas de qualquer forma, achei muito interessante essa sua convicção. Além, é claro, da sua frase acima, que se não estiver certa, pelo menos é muito inteligente. haha

    Tbm te acho bastante inteligente, só por isso que procuro saber suas opiniões e rebatê-las ainda por cima.

    Abraço


    * trecho do comentário do comentário de Anderson referente à pergunta que fiz no post "Atriz...atroz" no blog É comigo???

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  14. Pra falar a verdade sempre rola muito mal entendido no campo literário por conta das bagagens pessoais e intelecutuais,mas acho bacana essas conversas que ando tendo com vc,gosto de conversar com pessoas inteligentes!Quanto a questão religiosa,bem,o cristianismo "verdadeiro"tem uma interpretação das realidades diversa do pensamento ocidental,e isso leva a muito engano, mesmo por parte nossa mesmo!Ou seja,uma intepretação defeituosa!O pensamento judáico-cristão original preza a palavra "ouça"(principalmente relacionada à palavra de Deus),já o greco-romano enfatiza o "veja",então as pessoas ficam muito focadas naquilo que interpretam através dos olhos e criam uma realidade engessada,baseadas naquilo que podem perceber,interagir e coisa e tal,enquanto (eu pelo menos) acredito em uma realidade espiritual que coopera com essa,e que é experimentada através de uma relação do ser com Deus!Essa é uma busca existencial que tem me rendido algumas experiências muito interessantes,onde tento cada vez me aproximar mais de Deus para poder enxergar a realidade que não se pode ser enxergada naturalmente,mas que é mais real que a própria realidade palpável!A algum tempo me veio à cabeça:"Um bom argumento não é sinônimo de verdade" e me vi em meio a muitas pessoas muito inteligentes mas com propostas vazias apesar de uma retórica que me deixava pasmo,então tenho tentado buscar essa realidade por todos os meios e tenho dado de cara com Deus!Bom,vou parar por aqui,mas como disse,pra mim é um prazer conversar com vc guria!Abração e obrigado pela convesa!!!:)

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  15. Vc descreveu nora ou é impressão minha? Caramba, ficou ótimo ! Curti muito irmãzinha. Sabrinoca ;D

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  16. Nossa, é tanta coisa que a gente aprende tendo um blog. hauhuah. Concordo com Anderson quando ele diz que Um bom argumento não é sinônimo de verdade. Cabe a nós o analisar com cuidado para que nossas interpretações não sofram interferências de conceitos formados antecipadamente.

    Brigada pela conversa tbm!

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  17. Ê Sabrina, língua de trapo!
    Boa parte do texto foi inspirada em Nora sim. será que ela se importa?
    huahuahua

    Brigada pelo comentário, irmãzinha linda.

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