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terça-feira, 19 de abril de 2011

... homem não chora



Leia antes:  (Parte I) Todo mundo sabe que...

Falando sério, eu ainda não sei por que perco meu tempo com você, Émille. Ainda tento chamar sua atenção falando mais alto e mexo as mãos no bolso compulsivamente quando te vejo. Um otário eu devo ser. Um babaca que ainda tenta te convencer de que é legal tratar bem quem te trata bem. Como pode, meu Deus, ser tão fria assim? Não. Por favor, me diz, me explica. Me ensina, Émille. Quem sabe assim eu consiga achar normal essa sua arrogância e dar as costas de vez pra esse seu narizinho em pé.

Eu só queria entender, as coisas estavam indo tão bem. Minhas pizzas, nossas tardes, foi tudo tão bom, pode confessar. E os shows de rock, você parecia ter gostado tanto. Ah, sei lá, Émille, é verdade que você deixou claro desde o início essa teoria besta de que é impossível aprender a se apaixonar. Eu me lembro. Mas me diz, como eu podia acreditar? Não era o que seus pezinhos implorando calor me diziam. Nem seus olhos grandes e sua boca pequena. Você toda, tão linda, tão pequena, gritava pedindo amor. Parecia ter sido planejada pra ser sentida e eu, de alguma forma, quis te tocar. Você viu como eu tentei.

Mas aí, de repente, você vem com umas histórias malucas que não sei de onde tira. Umas ilusões, uma quimera, alguns delírios, de quem pensa mesmo que melancolia é traje fino. Esquece de quem a ama ou pelo menos tenta a amar, só por andar de casinho com os livros e, ainda por cima, insiste nessa mania Lispectoriana de flertar com a solidão. Sabe, minha lindinha, quando você cita poetas pra se livrar de mim, eu só sei reparar na sua tristeza de mulher calejada, fazendo de mim apenas mais um menino inexperiente que tenta a qualquer custo ir embora, temendo que antes você o faça. Fico tão bobo na sua frente. Tanto é que ainda estou aqui.

Eu já devia era estar bem longe, adiantando as lições de vida que você deveria ter. É tão inútil te explicar as coisas e também, eu nem sei se quero mais que me ame. Eu só estou aqui ainda pra pedir que fique mais um pouco, só enquanto eu gravo na memória suas caras emburradas. Sei que vou sentir falta delas, menina enjoada. Delas e do seu jeitinho meigo de dizer que me odeia. É tão contraditório, que você mesma não entende. Quase sempre deixa escapar um aveludado timbre de malícia quando vem me dizer que não. É confusa nas intenções, embora irritantemente coerente nos argumentos, tornando impossível qualquer discussão com você. Sabe de uma coisa? Eu não me importava em perder pra você mesmo estando certo, pelo contrário, eu pensava que sorte a minha ter te encontrado. Agora essa teimosia só me dá raiva.

Então, se é isso mesmo que você quer, tudo bem. Cansei, essa história já deu. Vou seguir seu conselho e ver se a garota do cabelo cacheado ainda está lá, quem sabe eu consiga me libertar de você. Eu espero que fique bem, sofrendo pelas suas paixões de verdade, talvez um dia alguém goste de você como eu gostei. Caso contrário, passe as tardes sozinha e tranquila, pois eu não vou mais te procurar. Desisto de tentar te proteger de você mesma. Eu não sei competir com suas mentiras mitológicas e com sua inteligência auto-destrutiva. Você é demais pra mim.

Vai, 
minha flor, pode começar a comemorar, você venceu. Mais uma vez, como sempre, tinha razão. Sem dor, sem enrolação, sem lágrimas, fica bem mais fácil te ver da porta pra fora. Um dia, de qualquer jeito, eu teria de aprender o que todo mundo já sabe: que homem não chora. 

Eu só queria entender de onde você tira essas coisas, Émille. Eu só queria entender.
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obs.: Quem arrisca o que esse cara tá sentindo levanta o dedo.

Um comentário:

  1. Adorei seu blog... e não estou dizendo isso só pq vc comentou o meu primeiro, achei realmente lindo, tanto o layout quanto a sensibilidade da escrita! Vc me ganhou nesse texto em "nessa mania Lispectoriana de flertar com a solidão"...

    Claro que pode usar aquela parte do meu texto, à vontade, vou adorar! Quando publicar, me avisa para eu ler, fiquei curiosa sobre o tema de "ser humano", adoro esse tipo de discussão.

    Enfim, realmente gostei muito!
    Obrigada pelos comentários!

    Beijos e Feliz Páscoa!
    Rebecca Noguchi
    hemobloguina.blogspot.com

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