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terça-feira, 26 de julho de 2011

Querido John,



quero através desta dizer que eu nunca comecei uma carta com “quero através desta”, porque assim eu não te tocaria. Seria como mandar uma carta pro John Lennon, John Kennedy ou sei lá, qualquer outro John sem importância perdido por aí.


E eu tenho uma mania irritante de querer mais. Querer causar fenômenos em você. Qualquer vulcão, qualquer euforia, qualquer tristeza vaga que te faça vir até mim. Te escrevo com a pretensão de soprar seus olhos daqui e fazer com que mudem de cor, como uma confusa aurora boreal de sentimentos, mesmo sendo a escuridão deles lanterna do meu caminho. Eu sei, já me avisaram que esses absurdos literários não são possíveis. Letras nunca movimentariam o ar e suas retinas serão pra sempre pretas. Mas você sabe, eu insisto em  provocar efeitos em você. É assim que se alimenta o amor.

Então eu vasculho nessa nascente no cantinho direito do meu globo ocular alguma intenção que tenha caráter de metáfora e um megafone com timbre rouco e sincero de quem há muito tempo sente vontade de estar junto. Sim, porque você não foi para o exercito como o John de Nicholas Sparks, mas inevitavelmente já sinto saudades a cada meia hora que não te tenho, então lhe mando cartas, as melhores que consigo.

Às vezes acho que não sei dizer o que meu coração sente. O que você acha sobre isso? Seria essa insatisfação literária mera letargia da minha cabeça ou são minhas intenções tão grandes que transformam tudo que escrevo num emaranhado prolixo? Sofro de alexitimia crônica e tenho a péssima mania de construir períodos longos sem vírgulas inadequadas que, estariam erradas, mas serviriam pra te fazer respirar e não quebrar o clima do texto. Por isso vou ficando assim, meio sem saber se minhas poucas vírgulas supostamente acertadas conseguem passar a intensidade do que eu sinto, ou se bastava cantar algo dos Tribalistas pra você. É provável que me entenderiam, mas acho pouco e óbvio.

Porque eu tento de tudo. Me encho até a borda das amarguras de Tati Bernardi, de alimentos vermelhos ricos em betacaroteno (cismei que tem uma parceria com o amor), da feminilidade da voz de Fernanda Takai, só pra ver se consigo deitar em linhas as batidas que soam aqui dentro. Tum-tum, Tum-tum... Leia rápido. Quem sabe assim fique mais fácil decifrar o que eu pelejo pra pôr em trocadilhos.

Mas sabe, menino... não é que de quando em vez surge alguém na multidão que me entende?! Alguém tão romântico quanto nós que me lê e de cara percebe que não queremos ser as escolhas um do outro e sim, nossas únicas opções. Alguém que crê sem ver, que não precisa de provas pra acreditar porque sabe que certos segredos divinos não têm fórmulas e aceita que estes se manifestem justamente nos desencontros e acasos. E claro, nas cartas de amor. Alguém que pouco importa se você não passa de um homem invisível, um herói de uma saga adolescente ou um personagem do folclore brasileiro, e ainda assim diz que você nasceu pra mim. Pode isso, John?

Pode. Recebi um e-mail de uma amiga/leitora (posso dizer o nome, produção?). É uma passagem escrita pelo carinha lá que me plagiou, o tal Nicholas Sparks, surrupiando o seu nome e o pondo no personagem-narrador do seu livro: “Dear John”. No e-mail, ela disse: "[...] Agora to lendo "Querido John". Muito, muito, muito lindo! E, bom, coincidência ou não, esse livro é justamente sobre John e você!". 

Com isso, minha dúvida quase se desfez, embora eu ainda não saiba se consigo passar o céu de coisas que quero de e com você. Por enquanto, me basta a prova de que alguns casais do mundo também têm o que nós temos. Brigada por compartilhar essa pieguice quase fora de moda comigo, "amiga do e-mail e da infância". 


Bem, o trecho do livro Querido John ta lá no bônus. Me sinta em cada letra à sua espera. E saiba que jamais deixarei de lhe escrever cartas. Nem que você não mais leia, nem que eu perca a coragem de enviá-las, nem que você não exista, como naquele filme A casa do lago.  Espero que as guarde em cada vão de seu coração perfumado.



          Beijos mais profundos, menos abstratos e tão confusos quanto as cartas,
          daquela que insistentemente sopra seus olhos na esperança de que mudem de cor.

4 comentários:

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