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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Diagnóstico: Bem de Alzheimer

"... é o momento em que você fecha os olhos e apaga qualquer vestígio do seu passado sem graça."


Os românticos não costumam existir antes de encontrar o amor. Fenômeno quase biológico esse de esquecer o que se passava na própria vida antes de encontrar o remédio, digo, a pessoa amada, que matará sua solitária.

Não sei se os apaixonados realmente vasculham seu banco de memórias pra terem certeza do que estão dizendo ou se são simplesmente induzidos à “epidemia” contemporânea do mal de Alzheimer pelos poetas mais intensos, só sei que é isso que os candidatos ao verdadeiro amor andam dizendo por aí.

Faça o teste. Puxe na memória. É... você tinha amigos, eu sei. Estudava, trabalhava, ia às festas. Mas por favor, tente lembrar mais que isso. As ruas, o céu, tudo arquitetado pra mais um dia normal. O celular anunciava as 6:00hrs e com sua autorização, repetia o mesmo toque com letra, porém sem sentido, às 7:00. Levantava com o ânimo de um bicho preguiça e escolhia uma roupinha preta, só pra variar, combinando com os olhos embaçados das pessoas que encontrava pela rua. Olhos que não te viam, olhos sem profundidade. E pare de dizer que você tava bem. Todo mundo sabe que a sua amiga só te ouvia reclamar da mesmice e de não ter nada melhor pra fazer porque a coitada sofria do mesmo mal e também não tinha nada melhor pra fazer. Tédio. Não é de se estranhar que seja tão fácil esquecer aqueles dias.

"Durante a última fase do Alzheimer, o paciente está completamente dependente das pessoas que tomam conta dele". 

Nem adianta as feministas chatas e os machistas de plantão virem discordar de mim. Ta tudo explicadinho lá no Wikipédia, podem olhar.

Quando um certo alguém te acorda de verdade, por ironia do destino, é o momento em que você fecha os olhos e apaga qualquer vestígio do seu passado sem graça.  Você se dá conta, mas já não faz questão de evitar. Quem já esteve contaminado pela paixão sabe que não há glóbulos brancos que impeçam essa doença de se espalhar por todo o corpo: o Bem de Alzheimer. 

  

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