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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dá um tempo

"...não desperdiçaria a chance de lhe perguntar o porquê de ainda se encaixar perfeitamente na minha vida de amanhã."
Escute:  Devolva-me - Adriana Calcanhoto 


Dois meses após o que eu concluí ter sido o fim, do conto de fadas e não do que nos une, pensei que tudo de mais fantasioso que envolvia você havia se esvaído. Nem me lembrava o quão lindo havia sido, que despertador eficiente fora você em minha vida. Cheguei a esquecer aquela cicatriz, bem acima do peito esquerdo, de onde vinha o bater acelerado nas horas em que você invadia meu quarto com todas as suas graças e convencimentos. A cicatriz a qual me refiro é um flashback do dia em que me fiz aceitar que dessa vez não era paranoia. Nada que eu fizesse poderia reverter a situação. Você estava indo. 


Já era tarde, da noite e da fantasia, quando me alertei do seu desamor. Presenciei seu previsível interesse por aquela moça que lhe prometera o mundo. Então, sosseguei-me. Ela parecia capaz de cuidar das suas necessidades básicas. Você estaria em boas mãos e eu sobreviveria. O que havia de ser feito? Mesmo te querendo, faltou vontade de pedir que ficasse. Meus soluços tímidos soaram como uma batalha final.

Devo confessar que já pressentia sua partida. Suas meias palavras cautelosas não foram suficientes para esconder suas técnicas de fuga e, ainda que fizesse questão de me incluir no seu futuro, um dia, fatalmente, eu teria que abrir mão do meu gosto explícito por você em prol do seu gosto escancarado pela liberdade.

Despedi-me de vc, assim, sem resistências. A ditadura da amnésia chegou a dar certo. Fiquei bem, como havia me sugerido num desses seus discursos de limpeza de consciência. Constatei que era possível viver sem você. Mas de nada adianta estar bem quando se escolheria era estar bem mal ao lado de quem te faz bem. Ainda que pra isso seja preciso entender o trava-vida mais embaraçoso que existiu entre nós.

Dois meses após o que eu concluí ter sido o fim, do conto de fadas e não do que nos une, você volta a ser o protagonista dos meus sonhos mais obsoletos. Apropria-se novamente dos meus discos, de mim, das linhas que ainda não escrevi. Fere-me com a lembrança de bom moço que ainda guardo das longas conversas moralistas, que é o que somos, pelas madrugadas a fora. Se ainda fosse ontem, não desperdiçaria a chance de lhe perguntar o porquê de ainda se encaixar perfeitamente na minha vida de amanhã e porque fora o único a driblar aquela minha ideia de solteirice infinita.

Seria mais óbvio justificar seu desinteresse dando-lhe o título de Cafajeste do ano, mas a verdade é que já não consigo mais me referir a você sem a posse e a vaidade do codinome "meu lindo". Fora tão perfeito nas suas imperfeições que nem pude lutar pra te ter. Não tive força, não tive audácia, nem mesmo vontade de sonhar mais um pouco. Aceitei que esse devia mesmo ser o seu melhor caminho.

Agora suma daqui, viaje, vá viver a sua escolha. Ainda que a história mude e os caminhos se refaçam, as marcas estarão sempre vívidas. Portanto, me dê um tempo. Preciso pensar. Permita-me ler mais de três versos sem que seu nome grite na minha cabeça. Deixe-me ouvir as velhas canções sem recordar de sonhos unilaterais. Permita-me ser o que eu era antes de vc ser o que, hoje, mais dói em mim.


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